Carmen Lucia Lancellotti

Carmen Lucia Lancellotti

Vivemos hoje num mundo de solicitações imediatas, aceleradas pela Internet e pelo arsenal eletrônico que nos acompanha em todos os momentos de nosso dia.

Toda essa tecnologia foi uma grande conquista que nos facilita o trabalho, permitindo a comunicação em tempo real com pessoas em qualquer lugar do planeta, desde que haja a conexão.

Confesso que eu, particularmente, gosto dessa ferramenta disponível, pois meu trabalho alcançou outra dimensão com essa possibilidade.

Sou médica neuropatologista e uma das premências em meu trabalho é elaborar laudos com o diagnóstico a partir de material retirado cirurgicamente do cérebro de pacientes com lesões neurológicas. Sempre são casos graves e a conclusão desse estudo, a partir do material retirado, norteará o tratamento adjuvante e o prognóstico da doença naquele paciente.

Todos estão estressados – o médico responsável pelo paciente, o patologista e, claro, o paciente e sua família. O tempo para essa conclusão tem que ser curto. Como dizemos – é para ontem.

Temos uma formação acadêmica que nos treina a conviver com a pressão, mas por outro lado pode nos transformar em quase robôs. A principal motivação do estudante que escolhe medicina é “salvar vidas”.

Pensei que estava bem treinada em separar o desempenho da expertise do meu emocional. Nosso treinamento durante a faculdade, na residência médica e na vida profissional é fundamentado em não se envolver emocionalmente com os pacientes. Como disseram a mim vários professores “você tem que aprender a não levar para casa os problemas”.

Hoje não concordo com essa postura. Mudei meu paradigma depois que aprendi a meditar com os ensinamentos que adquiri com a Brahma Kumaris e após minha estada na Índia.

Tenho trabalhado desde então em integrar meu cérebro emocional com meu cérebro cognitivo.  O trabalho continua sob pressão contínua, mas abri um espaço para a reflexão em tudo que faço e o que penso. Para conseguir realizar esse objetivo, preciso de Calma e de Silêncio. E de espaço para as reflexões interiores para me conhecer melhor, para decidir melhor, para cuidar de mim com Amor. Para doar Amor ao meu paciente.

Nesse processo houve uma mudança imensa na minha vida pessoal e profissional.

Agradeço muito a esse despertar que causou um grande impacto positivo também no meu trabalho e nas pessoas do meu entorno.

Sou professora na graduação e pós-graduação de escola médica. Antes ensinava apenas os conhecimentos adquiridos através dos estudos científicos constantes, associados à experiência profissional.

Hoje sou uma profissional com olhar holístico a tudo que sou e que vivi. E para meus alunos procuro ser facilitadora para que eles, além de se interessarem em aprender o conhecimento científico, não se esqueçam de aprender a se autoconhecer. Sei que os pacientes e seus médicos vão se beneficiar com essa nova relação. Acredito ainda que possamos salvar vidas. Mas muitas vezes só podemos minorar o sofrimento e confortar o ser humano sofredor.

“Quem tem alma não tem calma” diz Fernando Pessoa.

“Quem tem calma, tem espaço para olhar a Alma” é minha contribuição.

Carmen Lucia Penteado Lancellotti
Graduada em Medicina, com Mestrado e Doutorado em Patologia. Professora Titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Professora da Graduação e da Pós-Graduação com linhas de pesquisa em Neuropatologia, Responsabilidade Social, Relação Médico-Paciente e Humanização na Medicina e em profissionais da Área da Saúde